[Intro: Nissin]
Eis que surge a verdade
Ei, até quando Brasil Colônia?
Até quando, até quando Brasil Colônia?
Até quando, até quando?
[Verso 1: Nissin]
Eis que surge a verdade em meio ao prejúizo
Manda quem pode, Odebrecht quem tem júizo
Povo desunido numa guerra de partidos
Brasil Colônia, próximo capítulo
Aqui nunca houve independência
E o povo pobre continua sendo escravo
O governo te rouba cada centavo
E o plano da Previdência é o Sexagenário
Guerra de Cabral
Quem descobriu o Brasil não foi Portugal
Meritocracia sem ensino fundamental
Escravidão moderna, era colonial
Em agosto tem folclore na colônia
Sacis pererês e urnas eletrônicas
Eu já dei nomes aos bois
Vota errado, então não reclama depois
Ora pois, a corrente no pescoço do trabalhador
E agora quer dar um golpe de estado
Deixo dois recados antes que eu me esqueça:
Eu não sou de esquerda e não voto no Bolsonaro
[Verso 2: Fabio Brazza]
Desde muito tempo atrás, muito tempo atroz
Quase desde Pero Vaz, nunca teve vez nem voz
Das favelas aos faróis
Oprimidos desde os portugueses e espanhóis
Muitos contras, poucos prós, segue a conta pra nós
O mesmo ônus, 500 anos após
Desde Dom Pedro Primeiro
Que o Brasil é terceiro mundo
Desde Dom Pedro Segundo
Que ainda somos controlados por terceiros
Ansiando o décimo terceiro
Mas em desigualdade ainda estamos entre os péssimos primeiros
Empréstimos em dinheiro e quem fez o rombo?
Os filhos de Colombo ou os filhos de Quilombo, quem são os herdeiros?
Antes presos na corrente do branco
Hoje na conta corrente do banco
Assassinatos seguem padroẽs de cores
Pensamentos francos e Marielles Franco atraem franco-atiradores
Mas cansados de ouvir ordens dos mestres da colônia
Os serviçais viraram mestres de cerimônia
E trouxeram uma nova corrente de pensamento
Conhecimento é empoderamento contra os opressores
O grito de Independência é declamado todo dia
Nos saraus de poesia
Mas nessa fotografia
Não vemos um homem num cavalo branco
Vemos mulheres e jovens negros da periferia
Escrevendo a própria carta de alforria
Educação é a nova abolição da escravatura
E cada verso no papel
A certeza que a cultura liberta mais que assinatura da princesa Isabel!
[Verso 3: Sant]
Lágrimas de sangue escorrem dos filhos desse solo e irrigam esse solo
Crianças pedem colo e a pátria-maẽ se isola
"Que os órfãos chorem longe"
Às margens do que importa, o poder à preferência
Que deus me ajude (Lázaro)
Pois eu não sou politizado
A esquerda e a direita são duas asas do mesmo pássaro
Passeiam racistas, machistas, homofóbicos, etno-centristas
Há seis séculos, seis séculos
E só passaram nós
Foram mais de 6 bilhoẽs de óbitos
Queimaram arquivos, motivos
Queimaram motivaçoẽs e ainda estamos vivos
Mas queimaram meus ancestrais
Veneno nos livros
O que já foi, não volta
Mas quem disse que já nos livramos disso?
E as cotas espirituais, quem cede?
Ou melhor: quem assume esse compromisso?
De reequilibrar a balança da ordem natural do universo
Essa é a Revolta da Chibata em verso
Sentiu incômodo, então ajusta a carapuça
Porque eu bato na batida pra não arrebentar a tua fuça
Intolerância fede
Ignorância é febre (infelizmente)
Até quando Brasil doente?
[Verso 4: Sid]
Eu já não consigo mais ver a diferença dos dias de hoje pra 64
A ditadura continua aqui
Eles só falsificam a liberdade, mudam a tinta e trocam as bordas do quadro
E é tanto enquadro dentro das rodas de rima
Que a nossa revolta faz o rap ser inadequado
E eu pergunto pra polícia: isso vai até quando?
E eu canto pra tentar mudar as leis estúpidas do estilo Jânio Quadros
A repressão tem roupa, farda segue a moda
É foda pensar que quem tinha que proteger é que incomoda
A raiva é só uma gota e a revolução é um copo
E não é coincidência a eleição ser no ano da Copa
O Neymar entra em campo e o povo vai à loucura
Mas ningúem se importa se na favela vai ter cultura
Hoje o rap salva mais que a viatura
Que enquadra a boca, pega a escama e leva pra cheirar na prefeitura
Quase todo político é farinha do mesmo saco
Ou melhor: eles cheiram a farinha do mesmo saco
Pior pensar que a cada quatro anos é a mesma merda
É hora de agir, reclamar disso tá um saco, ó'
Somos ativistas do asfalto
Quem luta pelo próximo nunca vai ter um dia de folga
E a gente não vai descansar enquanto ainda ocorrerem casos como os casos de Marielle e Olga
Polícia é ruim pra ajudar, mas boa em acusar
E na hora de plantar o flagra quem que vai 'tar lá?
Milícia é boa em raptar, parece Bagdá
E o pique tá chacina em toda quebra que nem Maricá (Me marcou)
O brasileiro já nasce vestindo algema
Mas pra quem tem dinheiro isso não é problema
Mas pra quem nasce sem grana, eu recomendo estudar
A inteligência ainda é a maior revolução contra o sistema
[Verso 5: Gog]
Eu sou nata sã do Sant
Sid da minha city
Chapa quente Brazza
Nissin nossa causa
Oposição atira pedra mais que catapulta
Caixão tá lindo ái pro corpo que sepulta
Se ser puta é render-se por dinheiro
O que dizer de quem vendeu o solo brasileiro?
Brasil Colônia é só insônia para o pobre
Terras e luxo pra imigrante do século XIX
Em meio a antas e hienas, na selva vou seguindo
Me fizeram decorar, mas jamais amar o hino
Protagonista na cena, omissão na missão condena
Anti-sistema, GOG problema!
Quase deu perda total na esquerda nacional
Agora é juntar cacos, fortes fatos, grave geral
Antes que eu esqueça ou perca a paciência
Me diz qual ciência que sem prova se comprova?
Em vossa excelência martelo bati
E o prego sente na cabeça o vazio do que sonha
Fogo no pavio, estopim no barril
Brasil Colônia, ha, MC sem cerimônia, ó'
Fumar ou não maconha não me impede que me oponha à discriminação
Juiz infeliz, sem júizo no improviso
Lucro vira prejúizo
Traficante e usúario trancafiados no mesmo piso
Baseado em quina é tráfico, muito peso
Pego vai peso, só o Perrella sai ileso
Mas não pise na grama, descriminalização
E uma gama de manos e manas sem grana pra advogado
Não iriam ver o sol nascer quadrado
Ao contrário, o que se vê
Radiografia do estado:
Promotor público tem em cada município brasileiro
Defensoria, agulha no palheiro
Quem bate panela, não se comove, não chia
Se quem despeja usufrui de auxílio-moradia
Maior fatia do bolo sem dar ingrediente pra receita
Eis a fome de ganância da direita
[Sáida]
"A única parte que importa pra esses cara do que é público é o dinheiro público. A população mesmo, não interessa. Interessa na medida que ela possa ser explorada. E, pra ser explorada, tem que ser desinstrúida, tem que ser alienada."
"Em Brasília, 19 horas."